Presidente da República de Portugal dramatiza necessidade de solução política estável após as próximas eleições, alertando portugueses para a "importância do que está em causa"
Só faltou mesmo um apelo explícito a uma maioria absoluta. Ao encerrar, ontem, no Palácio da Cidadela, em Cascais, o 8º Encontro Anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, o Presidente da República (PR) falou dos tempos políticos que se aproximam - e a palavra "maioria" esteve bastante presente na sua intervenção.
Marcelo pareceu ter feito, implicitamente, um apelo a que a "maioria" constituída pelos partidos do centro, PS e PSD, se reforce, em desfavor de soluções que não passam de "modas".
Foi assim, a frase presidencial: "Há certas realidades que estão definidas na cabeça da maioria dos portugueses e que essa maioria é uma maioria de bom senso muito ampla, muito vasta e é em democracia há mais de 40 anos e não vai mudar. As modas podem mudar, mas o essencial fica."
Marcelo aproveitou a cerimónia para, mais uma vez, reiterar que não quer que às eleições legislativas que marcou para 30 de janeiro se sigam mais tempos de instabilidade e uma sucessão de "miniciclos": Os portugueses têm agora a oportunidade, daqui até 30 de janeiro, de ponderar em conjunto as escolhas, quer no que respeito ao pós pandemia, quer no que respeita à gestão económica e social, tendo presente que o esforço que vai ser exigido é um esforço de fôlego, não pode ser um esforço traduzido em miniciclos", afirmou.
É que, no seu entender, a criação de uma situação política sem maioria estável no Parlamento de apoio ao Governo, significaria "perder" uma "oportunidade" tanto na "gestão do que resta da pandemia" como "sobretudo de reconstrução económica, seria perder uma oportunidade". Dito de outra forma: o importante é aproveitar o facto de, "de alguma maneira", as eleições legislativas permitirem "um horizonte até 2026" (quatro anos, a duração de uma legislatura).
Numa intervenção de 40 minutos em que fez um balanço da situação do mundo, da Europa e de Portugal, o PR identificou três questões que vão determinar o futuro do país: a leitura e a gestão política da pandemia que "ainda pesa", a reconstrução/recuperação económica e social e a capacidade de resposta do sistema político. E mais uma vez insistiu: "Não vai ser possível continuar a enfrentar a pandemia e pôr de pé a resposta social e económica (...) se não houver previsibilidade no sistema político, se o sistema político não tiver capacidade de responder com previsibilidade aos desafios de médio prazo."
Sublinhando que "nunca há boas ocasiões para uma não aprovação do Orçamento do Estado", realçou no entanto que "o acaso" colocou as eleições legislativas antecipadas num momento inicial e não intercalar de decisões fundamentais sobre os fundos comunitários. "Quem quer que venha a ser Governo depois das eleições de 30 de janeiro sabe que este é um desafio nacional, numa parte irreversível e noutra irrepetível", alertou.
Mais tarde, no Palácio de Belém, o PR recebeu uma delegação do Governo, chefiada pelo primeiro-ministro, que lhe foi apresentar os cumprimentos de Boas Festas. Tudo foram sorrisos, ambos salientaram que esta coabitação é a mais duradoura desde a de Soares/Cavaco - mas, no fim, Marcelo não se esqueceu de salientar que depois das próximas legislativas o primeiro-ministro poderá já ser outro: "Do mesmo modo que reconheço que foi excelente - que foi a expressão utilizada por Vossa Excelência [António Costa] - a cooperação institucional entre Presidente e primeiro-ministro, tenho a certeza que será também uma cooperação idêntica a que haverá com o primeiro-ministro que os portugueses escolherem na base da sua reflexão sobre o passado próximo e sobre o futuro que se avizinha." Aproveitou para, novamente, apelar aos portugueses para que "percebam a importância do que está em causa".
António Costa, pelo seu lado, realçou o "prazer" do Governo em "trabalhar" com o Presidente da República, salientando que entre as duas partes existe uma "visão comum" sobre "o papel institucional dos diferentes órgãos de soberania".
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