Kamila Valieva tropeçou, caiu duas vezes e depois chorou. Muito
Jogos Pequim2022. A patinadora russa, que está envolvida num caso de doping, não resistiu à pressão e cometeu vários erros no seu programa livre
Valieva terminou na quarta colocação. Por causa das falhas da maior estrela da modalidade, Valieva, pressionada por causa de doping, o pódio olímpico será realizado. É que o Comitê Olímpico Internacional (COI) determinou que não concederia nenhuma medalha de competições envolvendo Kamila Valieva.
Kamila Valieva deslizou no gelo olímpico de Pequim ao som do "Bolero" de Ravel durante quatro minutos e vinte segundos. Depois de ter terminado o programa curto em primeiro lugar, a patinadora russa de 15 anos, reconhecida como a melhor patinadora da atualidade, não precisaria de muito para garantir um lugar no pódio. Mas naqueles quatro minutos e vinte segundos que durou o seu programa livre, Kamila tropeçou várias vezes e caiu duas vezes e, apesar dos aplausos do público que não deixou de puxar por ela, não conseguiu recuperar. "Porque desististe de lutar?", perguntou-lhe a treinadora no final. A jovem não respondeu. Chorou enquanto esperava pela pontuação e depois chorou outra vez ao saber que tinha terminado a prova em quinto lugar, o que a colocava no quarto lugar da competição.
A sua compatriota Anna Shcherbakova sagrou-se campeã olímpica de patinagem artística nos Jogos Pequim2022. Outra russa, Alexandra Trusova, ficou em segundo e a patinadora japonesa Kaori Sakamoto em terceiro.
Valieva, atual campeã europeia, fez manchetes em todo o mundo quando realizou na capital chinesa um histórico salto quádruplo.
Mas, entretanto, outras notícias surgiram. A patinadora testou positivo a trimetazidina a 25 de dezembro último, durante os campeonatos da Rússia. A 11 de fevereiro, a Agência Russa Antidopagem (RUSADA) decidiu abrir um inquérito interno a todos os treinadores e médicos em torno de Valieva, que é “menor de idade” e, portanto, passível de ter visto os seus interesses mal defendidos por pessoas com essas funções.
A jovem foi suspensa já no decurso dos Jogos de Inverno mas, depois de o COI ter avançado para a suspensão da entrega de medalhas da prova coletiva, que a Rússia venceu e na qual Valieva participou, o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS, no acrónimo em Inglês) autorizou a atleta a manter-se nos Jogos de Pequim2022 e a poder participar na prova individual.
O tribunal deu a Kamila Valieva uma decisão favorável sobretudo porque se trata de uma menor de idade ou “pessoa protegida” e, por isso, está sujeita a regras diferentes de um atleta adulto. “O painel considerou que impedir a atleta de competir nos Jogos Olímpicos nestas circunstâncias causaria danos irreparáveis”, declarou o diretor-geral deste órgão, Matthieu Reeb.
A decisão foi polémica por vários motivos. Houve patinadoras que mostraram o seu descontentamento por estarem a concorrer conscientemente contra alguém que tinha falhado um teste de drogas, enquanto outros lamentaram que uma criança fosse envolvida num escândalo de doping. Alguns especialistas questionaram se seria seguro deixá-la competir tendo em conta a fragilidade do seu estado emocional, mas outros argumentaram que teria sido pior não a deixar competir depois de todo o esforço que ela fez para participar pela vez primeiras nuns Jogos Olímpicos.
A atleta quebrou o silêncio na terça-feira, afirmando que o escândalo do doping a deixou devastada: "Estes dias têm sido muito difíceis para mim a nível emocional. Estou feliz mas emocionalmente exausta. É por isso que estas lágrimas são de alegria, mas também um bocadinho de tristeza. Mas, claro, estou feliz por participar nos Jogos Olímpicos. Farei o meu melhor para representar o nosso país", afirmou Kamila Valieva ao canal russo Channel One.
“Vê-la no gelo olímpico, agora, com tudo o que descobrimos na última semana, não achei que fosse acontecer”, comentou Tara Lipinski, antiga patinadora, quando Valieva apresentou o seu programa curto. "E eu acho que isto não deveria estar a acontecer", disse, manifestando o seu desconforto.
Apesar de tudo, Kamila Valieva quis ir até ao fim. Terminou estes jogos em lágrimas. O sonho olímpico continua daqui a quatro anos, em Itália.
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